Brinque o carnaval


Diálogo de Carnaval

— Vem comigo?
— Como?
— Vem comigo.
— Assim sem mais? Eu acabei de chegar.
— Sim, e agora vais dizer que não me conheces.
— E é verdade, nunca te vi antes.
— Tanto melhor assim. Tens a oportunidade de me conhecer agora, livre dos preconceitos que terias a meu respeito se estivéssemos nos observando há dias ou semanas.
— Mas nem sei para onde queres me arrastar.
— Não te arrastaria nem que me pedisses para fazê-lo. Não tens pernas belas e saudáveis? Quero é que me leves pela mão. Vai na frente e eu te sigo. Hoje sou livre, tão livre que posso me entregar.
— Tu me pediste para ir contigo...
— Tu comigo ou eu contigo, dá no mesmo. O importante é caminharmos.
— Não me disseste ainda quem és.
— Se queres um nome, chama-me Arlequim.
— Não trazes máscara nem fantasia.
— Aí é que te enganas. Todos temos máscaras, embora muitos não admitam. E, sim, sou dos que ainda fantasiam. Mas eu já estava pensando que irias preferir a realidade.
— Só perguntei... Pois não te chamas Arlequim?
— Tu é que deves me chamar assim.
— Dá no mesmo.
— Nem sempre. Podes ter outro nome, mas hoje te chamo Colombina.
— Ah, é? Já vi que, para ti, a realidade não importa.
— E que é a realidade?
— Tu que começaste falando dela.
— Só usei a palavra, mas não gosto do que não compreendo. Prefiro a fantasia.
— E compreendes a fantasia?
— Trato de desenhá-la de maneira que eu a compreenda, doce Colombina.
— Pois agora supões que eu seja doce?
— Tanto quanto és Colombina.
— Não me chamo Colombina.
— Mas hoje eu te faço Colombina, para andar ao meu lado é preciso que sejas Colombina.
— Tinha entendido que me querias à tua frente, não ao teu lado.
— Mudei de ideia.
— Ainda bem.
— Mudei porque gostei de ti. Do teu nome. Combina com o meu. Dá-me tua mão?
— Só se me deres teu coração.

texto de: Eduardo Trindade

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