O futuro do casamento




Nos últimos tempos, tenho ouvido com freqüência muita gente declarar que não tem mais o menor interesse pelo casamento. Não se trata de uma frase provocada por alguma desilusão amorosa, ou dita em um momento de desespero. Tal afirmação parte de pessoas objetivas e serenas, que se encontram numa fase estável da vida e consideram o casamento algo superado, uma má solução para uma época em que as mulheres estão se tornando cada vez mais independentes economicamente.




Esse pessimismo atinge todas as idades. Pensam assim pessoas jovens, maduras, e também mais velhas. Neste último grupo, destacam-se principalmente as mulheres. Muitos já se casaram e viveram as dificuldades próprias do matrimônio. Outros observaram as experiências dos pais e dos amigos, e desconfiam da rotina conjugal. Preferem namorar, ter compromissos fixos, mas evitam laços mais estreitos. A idéia de cada um morar na sua casa, ter sua privacidade, seu dinheiro e seus amigos aparece como uma opção mais atraente do que a vida em comum, onde tudo é compartilhado.



Face à situação, cabe a pergunta: será que o casamento como instituição está com seus dias contados? Não creio que se possa dar uma resposta simples e rápida a uma questão tão complexa. A grande verdade é que, nos últimos tempos, muitos relacionamentos conjugais têm sido frustrantes e insatisfatórios. E as pessoas estão decepcionadas. Antigamente, a maioria dos casamentos se dava por arranjos familiares e pouco se esperava deles. Hoje os jovens se casam por amor e sofrem porque, muitas vezes, seus sonhos e expectativas naufragam.



Quando a decepção é grande, o melhor remédio é procurar novas soluções, mais gratificantes e ricas. A idéia de que o casamento limita a independência e sufoca a individualidade se torna cada dia mais verdadeira nos tempos atuais, pois a sociedade conjugal permanece presa às cláusulas de um velho contrato. A mobilidade das pessoas cresceu muito, mas elas continuam exigindo, como prova de amor, que os casais passem o tempo livre juntos. Há, portanto, em muitos casos, uma defasagem entre a instituição e a vontade dos parceiros, o que justifica a crise que vivemos.



Poderíamos até concluir que o casamento só sobreviverá quando forem enormes os interesses que o favoreçam. O desejo de ter filhos, por exemplo, estimularia as uniões estáveis. Pessoas mais velhas continuariam juntas para que uma possa cuidar da outra. No entanto, não buscamos companhia apenas por razões práticas e lógicas. Embora nossa época seja marcada pelo individualismo, ainda sabemos apreciar o aconchego que deriva do "encaixe" amoroso. Essa sensação também pode existir quando os parceiros moram em casas separadas. Não há dúvida, porém, de que ele é mais completo quando somos capazes de compartilhar mais intimamente nossas vidas.



Vale um palpite. Penso que no futuro as pessoas mais individualistas evitarão morar sob o mesmo teto. As uniões cheias de atritos e brigas desaparecerão. Mas os bons casamentos continuarão a existir. Aliás, no mundo de hoje, só um tipo de casamento pode dar certo. É aquele em que os parceiros são extremamente parecidos em todos os sentidos: gostos, objetivos e temperamento. Nesse caso, viver juntos não implica concessões, pois há a síntese de duas tendências: preservação da identidade – pessoas idênticas moram juntas, sem ter de modificar sua rotina – e aproveitamento do aconchego romântico. Não é preciso optar. É possível ter as duas coisas.



Flávio Gikovate

www.flaviogikovate.com.br

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