A dança e o outro


O Zaratustra de Nietzsche conclama os homens a dançar dessa forma, há nessa orientação um combate ao profundo individualismo em que o homem se encarcerou. A essa forma de pensar e agir, na qual o indivíduo elege a si mesmo como “a medida de todas as coisas” 2, Nietzsche chamou de “Princípio de Individuação” (2003, p. 30). O dionisíaco e a dança, como energias coletivas, têm o poder de reconciliar o homem e a natureza, o homem e o outro. Leiamos essa possibilidade apontada por Nietzsche (2003, p. 31):
Sob a magia do dionisíaco torna a selar-se não apenas o laço de pessoa a pessoa, mas também a natureza alheada, inamistosa ou subjugada volta a celebrar a festa de reconciliação com seu filho perdido, o homem.

A visão de Nietzsche, nesse sentido, é holística. A dança a que ele se refere, portanto, é aquela que serve como fenômeno de integração, de harmonização, sem, contudo, ser pacífica. Sendo dionisíaca, trata-se de uma dança guerreira. Celebra-se a vida e a natureza humana, mas sabe-se que essa natureza é conflituosa e não se escapa de tal tensão. O lado noturno é tão importante quanto o diurno, a dança evoca tanto o sublime quanto o terrível.
Esse equilíbrio estético foi perdido pela dança romântica, que valorizou apenas o lado dito moralmente nobre do humano e elegeu Apolo, em suas formas, medidas e equilíbrio como o único referencial a ser seguido. No entanto, danças profanas, populares ou ritualísticas trazem sempre a tona o poder dionisíaco novamente, mostrando-nos que, em essência, a dança que Zaratustra nos incita parece ser insistentemente clamada pelo corpo e pela vitalidade.




Resumo:

Com base no pensamento do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, busca-se esclarecer o conceito de “dança” utilizado alegoricamente pelo autor em suas obras, especialmente em “Assim Falou Zaratustra”. Nota-se que tal conceito tem fundamento em sua admiração pelo helenismo, mais especificamente na estética dionisíaca, e que as formas atuais de compreensão da dança podem estar distantes da caracterização realizada por Nietzsche. Observa-se também que, na filosofia nietzschiana, a alegoria da dança configura-se como um importante instrumento para o projeto de transvaloração moral proposto pelo autor.

Unitermos: Dança. Filosofia. Nietzsche.

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