Quem me roubou de mim?

RESUMO A OBRA LITERÁRIA “QUEM ME ROUBOU DE MIM?”






APRESENTAÇÃO





Este livro não é um ensaio teológico. Também não é um tratado de antropologia especializada. É apenas a satisfação de um desejo simples, menor. Desejo de expor o assombro que tenho experimentado ao ver as dores do mundo, os calvários da humanidade.

O seqüestro da subjetividade é um acontecimento que atenta diretamente contra o primeiro aspecto deste processo: “ a disposição de si.”

Toda relação que priva o sr humano de sua disposição de si, de sua pertença, ou seja, a capacidade de administrar a própria vida, de alguma forma caracteriza-se como “seqüestro da subjetividade”.

O seqüestro do corpo é uma forma de roubo. Alguém foi materialmente levado de seu meio.

Paralelo ao seqüestro da materialidade, colocaremos a questão do seqüestro da subjetividade, uma espécie de roubo que não é material, não possui cativeiros materiais, localizados, e que pode ter início nas relações que estabelecemos.

A partir dessa forma de seqüestro nasce o mal-estar psicológico, o sofrimento que não tem localidade no corpo, mas possui o poder de adoece-lo.

É importante salientar que aqui a reflexão está amparada nos princípios evangélicos. O porto do qual partimos é a experiência concreta de Jesus e sua palavra, capaz de promover a vida e a liberdade necessária para bem vive-la.

O contexto da palavra de Jesus é o simbólico. Simbólico é a realidade que estabelece pontes, gera entendimento e superação.

Relações simbólicas são aquelas que nos permitem o crescimento e a superação de nossos limites porque são capazes de estabelecer pontes que nos permitem travessias.

Este livro quer ser simbólico, porque está comprometido com o desejo de lhe fazer bem..

Onde houver um ser humano realizado, nele Deus estará revelado.

O sermão do bom ladrão


O PENSAMENTO DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA

NA ATUALIDADE



Lucia Carine Rocha Corlinos (UERJ)
Ruy Magalhães de Araújo (UERJ)







O SERMÃO DO BOM LADRÃO



Um dos sermões que mais se identifica com a atualidade brasileira, pregado na Igreja da Misericórdia de Lisboa em 1655, diante de D. João IV e sua corte. Lá estavam também os maiores representantes do reino, que possuíam cargos elevados, tais como: juízes, ministros e conselheiros.



Vieira utilizou-se do púlpito como mensageiro das absorções públicas, à maneira de uma imprensa ou de um palanque político. Apesar de estar na Igreja da Misericórdia, disse ser a Capela Real e não aquela Igreja o local que mais combinava com o seu discurso, porque iria expor assuntos pertinentes à sua Majestade e não à piedade.



Vejamos alguns trechos abaixo:



Levarem os reis consigo ao paraíso os ladrões, não só não é companhia indecente, mas ação tão gloriosa e verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o mesmo Cristo a verdade do seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei.



Mas o que vemos praticar em todos os reinos do mundo é, em vez de os reis levaram consigo os ladrões ao paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao inferno.



Esta pequena introdução serviu para que Vieira manejasse os seus dardos inflamados contra aquele auditório composto por pessoas da nobreza. E continuou enérgico:



A salvação não pode entrar sem se perdoar o pecado, e o pecado não se perdoa sem se restituir o roubado: Non dimittitur peccatum nisi restituatur ablatum.



Suposta esta primeira verdade, certa e infalível; a segunda coisa que suponho com a mesma certeza é que a restituição do alheio sob pena de salvação, não só obriga aos súditos e particulares, sendo também aos cetros e as coroas. Cuidam ou devem cuidar alguns príncipes, que assim como são superiores a todos, assim são senhores de tudo; e é engano. A lei da restituição é lei natural e lei divina. Enquanto lei natural obriga aos reis, porque a natureza fez iguais a todos; enquanto lei divina também os obriga; porque Deus, que os fez maiores que os outros, é maior que eles.



Baseado no pensamento do filósofo Patrístico Santo Tomás de Aquino, de que os príncipes são obrigados a devolver o que roubam do povo, sem que seja para a conservação e benefício de todos, lembra Vieira terem sido castigados com o cativeiro dos Assírios e dos babilônicos os reinos de Israel e Judá, entretanto os seus príncipes, em vez de cuidarem do povo na função de pastores, roubam o mesmo como mercenários: Principes ejus in médio illius, quasi lupi rapientes praedam. (Ezech. XXII, 27)



Diante do pensamento de Santo Agostinho, é nítida a diferença entre os reinos, onde se evidenciam opressões e injustiças, e os abismos dos ladrões: naqueles os roubos e as extorsões eram muito grandes; nestes os covis de lobos eram representados por reinos menores, e confirma essa proposição narrando de uma passagem histórica com Alexandre Magno:



Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício: porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e outros definiu com o mesmo nome: Eodem loco ponem latronem, et piratam quo regem animum latronis et piratae habentem. Se o rei de Macedônia, ou de qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei; todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.



Quando li isto em Sêneca não me admirei tanto de que um estóico se atrevesse uma tal sentença em Roma, reinando nela Nero. O que mais me admirou e quase envergonhou, foi que os nossos oradores evangélicos em tempo de príncipes católicos e timoratos, ou para a emenda, ou para a cautela, não preguem a mesma doutrina.



Seguindo ainda nessas proposições, lança acusações contra os poderosos:



O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue muito bem São Basílio Magno. Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias ou a administração das cidades, os quais já com mancha, já com forças roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo: os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.



Diógenes que tudo via com mais aguda vista que os outros homens viu que uma grande tropa de varas e ministros da justiça levava a enforcar uns ladrões e começou a bradar: lá vão os ladrões grande a enforcar os pequenos... Quantas vezes se viu em Roma a enforcar o ladrão por ter roubado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo, um cônsul, ou ditador por ter roubado uma província?... De Seronato disse com discreta contraposição Sidônio Apolinário: Nom cessat simul furta, vel punire, vel facere. Seronato está sempre ocupado em duas coisas: em castigar furtos, e em os fazer. Isto não era zelo de justiça, senão inveja. Queria tirar os ladrões do mundo para roubar ele só! Declarando assim por palavras não minhas, senão de muito bons autores, quão honrados e autorizados sejam os ladrões de que falo, estes são os que disse, e digo levam consigo os reis ao inferno.



Vieira novamente vai fazer uso, do pensamento do filósofo Patrístico Santo Tomás de Aquino:



(...) aquele que tem obrigação de impedir que se furte, se o não impediu, fica obrigado a restituir o que se furtou. E até os príncipes que por sua culpa deixaram crescer os ladrões, são obrigados à restituição; porquanto as rendas com que os povos os servem e assistem são como estipêndios instituídos e consignados por eles, para que os príncipes os guardem e mantenham com justiça.

 CONTINUAÇÃO

Animais que roubam

                         

Os ladrões

O estado de s. paulo 

06/12/2000


Definitivamente não se fazem mais ladrões como antigamente. Meneghetti, Sete Dedos. Eram homens de bens, conhecidos, respeitados. Poucos, mas bons. Profissionais. Alguns assaltavam de terno e o colarinho não era branco. Sapatos engraxados.

Em primeiro lugar, não eram assassinos. Não entravam nos lugares dando tiro pra tudo quanto é lado. E nem estupravam. Muito menos batiam. Respeitavam as vítimas. Um deles, o Bandido da Luz Vermelha, andou transando com algumas das assaltadas. Mas por que era belo, educado, sabia fazer a coisa. Muitas se apaixonavam por ele. Pediam para ele voltar. Eram ladrões de Primeiro Mundo, primeiro time. Gente fina mesmo.

Os ladrões de antigamente apenas roubavam casas. Usavam pé-de-cabra, lanterna e máscaras. Quer coisa mais romântica do que um ladrão de máscara? Mas não eram essas meias de mulher que os ladrões de hoje usam. Eram máscaras mesmo. Como as do Zorro. Preta, cobrindo só o rosto. A boca livre para o diálogo, um sorriso e um muito obrigado. Alguns, mais sofisticados, usavam máscara dourada. O Brasil era um baile à fantasia, naquele tempo.

Eram profissionais da gatunagem. Agiam sorrateiramente, como gatos. Daí o simpaticíssimo nome de gatunos. Ou larápios. Ou, para ir mais longe, amigo do alheio. E não inimigo, como hoje em dia. Eram respeitados pelos vizinhos. Tinham família, pagavam Imposto de Renda. Não se drogavam. Não roubavam dos pobres e nem dos camelôs.

Eram organizados. Faziam planos, estudavam a casa a ser assaltada, trabalhavam só na calada da noite, de preferência com Lua Cheia. Eram hábeis, não arrebentavam nada, não quebravam. Fechavam a gaveta, depois.

Também assaltavam bancos. Mas sem seqüestros, tiroteios ou tapa na cara. Vez ou outra, um trem pagador. Alguns, nem armas usavam. Era no gogó mesmo.

Naquele tempo a prisão de um ladrão era caso raro e bem noticiado. Ele dava entrevistas de cabeça erguida e não falava menas. Tinha – aqui no Brasil – ladrão de origem italiana, japonesa e até argentinos.

Eram poucos os nossos ladrões. E eram presos, julgados e condenados. Tudo dentro da lei, da ordem e do progresso.

Hoje são muitos os nossos ladrões. E não são presos, nem julgados e nem condenados. Vários deles são candidatos a cargos públicos e eleitos. E ai de quem chamar algum deles de nefasto. Esse sim, é condenado.

Hoje usam colarinho branco ou azul clarinho. Não roubam mais casas e nem usam máscaras, apesar de serem mascarados e nunca desmascarados.

Hoje temos dois tipos de ladrões no nosso Brasil. O que rouba milhões e o que rouba migalhas. Os primeiros, profissionais. Os segundos, a cara do País. São incapazes de roubar um toca-fita sem destruir todo o painel do carro. Não conseguem nada sem porrada. Tremem na hora do trabalho. Matam por migalhas. Fazem cocô no meio da sala, só de sacanagem. Amadores com dor de barriga.

Os ladrões dos milhões são bem mais sofisticados. Matam indiretamente. Jamais apertam um gatilho. Preferem supervalorizar obras. Como viadutos, que servem para abrigar os ladrões das migalhas.

Não se rouba em quantias, mas sim em porcentagens. Não usam mais o pé-de-cabra, nem são mais cabras da peste. São apenas uma peste.

Os ladrões na cruz




(Mateus 27:38-44; Marcos 15:27-28,32; Lucas 23:32,39-43)



Muitos falam, especulam, argumentam e escrevem sobre o ladrão da cruz, como se houvesse um só ladrão crucificado ao lado de Jesus. As Escrituras, no entanto, claramente afirmam sem sombra de dúvida: "Com ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita, e outro à sua esquerda" (Marcos 15:27). Os ladrões sobre as cruzes estavam posicionados como ninguém, embora não merecessem ser invejados, para contemplar a crucificação de Cristo no meio deles. Aquela cena terrível já se deu há muito tempo, mas em certo sentido ainda podemos contemplá-la, como aconteceu com os gálatas: "Ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado" (Gálatas 3:1). Isso foi possível mediante a pregação eficaz da cruz de Cristo, e tem hoje o mesmo poder para aqueles que "têm olhos para ver".



Os dois ladrões eram o extremo oposto em caráter daquele que se achava no meio deles. Eles eram "ladrões"; roubavam as pessoas para enriquecer; ao passo que Jesus "se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos" (2 Coríntios 8:9). Eles eram "malfeitores"; ao passo que ele "andou por toda parte, fazendo o bem" (Atos 10:38), completamente inocente. Eles eram "transgressores" (literalmente, fora-da-lei), sem se preocuparem com a lei dos homens ou de Deus; ao passo que só Jesus guardava a lei de Deus à risca e mostrava consistentemente em sua vida e em seu ensino o respeito por toda lei devidamente constituída. O contraste entre o caráter dos ladrões e o de Cristo era evidente mesmo nas cruzes, quando "os que com ele foram crucificados o insultavam"; ao passo que ele "quando ultrajado, não revidava com ultraje" (1 Pedro 2:23).



Desviando um pouco a atenção dos ladrões, devemo-nos perguntar em quanto o nosso caráter deixa de atingir o caráter daquele que era "santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores" (Hebreus 7:26). O auto-exame pode mostrar que somos, em alguns aspectos, mais como os ladrões do que gostaríamos de imaginar. Os ladrões cumpriram sem querer a profecia a respeito de Cristo. "E cumpriu-se a Escritura que diz: Com malfeitores foi contado." Que essa profecia de Isaías 53 encaixa-se à cena da crucificação fica claro em Lucas 22:37, em que Jesus disse, na noite anterior: "Importa que se cumpra em mim o que está esrito: Ele foi contado com os malfeitores". Assim, os ladrões involuntariamente contribuíram com mais uma prova profética de que Jesus é de fato o Cristo. O fato de Jesus ser "contado com os malfeitores" não fez dele um transgressor. Em vida, ele era conhecido como "amigo dos pecadores", considerado um deles, mas não participou de seus pecados nem desculpou de jeito algum o pecado deles. No entanto, ele morreu como se fosse pecador, ou transgressor, por causa de nossos pecados. Como afirma Paulo, "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós" (2 Coríntios 5:21). Como também disse Isaías: "Foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo" (Isaías 53:8).



Os ladrões se mostraram diferentes no fim. "Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso" (Lucas 23:39-43). Um dos ladrões permanece impenitente na presença da cruz de Cristo, insultando o Salvador, sem ouvir a repreensão e os apelos do companheiro que também ia morrer. O outro é tocado e tem o coração aquebrantado, repreendendo o companheiro, reconhecendo-se culpado, declarando a inocência de Cristo e suplicando para que o Senhor se lembrasse dele após a morte. Em nossa resposta à pregação da cruz de Cristo hoje, podemos ou ficar empedernidos por aquela terrível cena como um dos ladrões, ou ser tocados como o outro.



A resposta de esperança após a morte, que o Senhor deu ao ladrão, tem sido muitas vezes mal usada para dar a falsa esperança aos que desejam passar pela morte sem obedecer à condição do Novo Testamento do batismo "para a remissão de pecados" (Atos 2:38). Esse mal uso comum toma como pressuposto que o ladrão penitente não foi batizado com o batismo de João e desconsidera o fato de que ele viveu e morreu sob a velha lei e não sob a nova. Cristo, com sua morte na cruz, encerrou o Antigo Testamento e ratificou o Novo Testamento, no qual ele nos apresenta a esperança do céu para nós hoje (Colossenses 2:14; Hebreus 9:15-18). Se quisermos "estar sempre com o Senhor" no "paraíso celeste de Deus", devemos, como crentes penitentes, ser "batizados em Cristo" (Gálatas 3:27), habitar nele e morrer nele (1 Tessalonicenses 4:16-17).



-por Hugh W. Davis

Autor: Antônio Rodrigues de Lemos Augusto


Mark Twain é um dos principais escritores da literatura norte-americana. Seus textos normalmente faziam críticas ácidas e, por vezes, bem humoradas da sociedade. Em 1876, ele produziu um dos seus mais famosos clássicos: “As aventuras de Tom Sawyer”, um romance infanto-juvenil, baseado em personagens que realmente existiram. Ao final, há uma frase que se enquadra perfeitamente na sociedade brasileira. Dois garotos, personagens principais da história, debatem se é melhor ser ladrão ou pirata: “Um ladrão é uma pessoa de categoria mais alta que um pirata. Isso de um modo geral, você sabe, porque na maioria dos países vive entre a nobreza, entre duques e outros que tais”, diz o menino Tom Sawyer.




É engraçado como a constatação de Mark Twain poderia ter sido feita perfeitamente no Brasil do século XXI, mais de 130 anos depois da primeira edição da obra. E é preocupante como, muitas vezes, tal cultura é aceita entre a sociedade. O “rouba, mas faz” virou espécie de lema político, tão perverso quanto a deturpação pecaminosa dos versos da oração de São Francisco: “é dando que se recebe”. Que brasileiro que discordaria de que há muitos ladrões entre a nossa elite? Certamente os ladrões mais danosos à sociedade...



Se fizermos um apanhado do noticiário local, encontramos construtores envolvidos em licitações fraudulentas de obras sociais, supostos empreendedores que traficam madeira, advogados que se envolvem com tráfico e jogatinas, oficiais da polícia que se metem em grilagem de terras, políticos de renome relacionados a bicheiros, gente graúda que se aproveita da prostituição infanto-juvenil, empresários conceituados que bancam caixa dois em campanhas políticas, gente de sobrenome que entra de forma estranha em concursos públicos, fazendeiros que captam empréstimos agrícolas e aplicam em outros bens, patrões que se apropriam indevidamente dos descontos do FGTS e do INSS e por aí vai...



Avançamos, claro que sim! Sou otimista! Exemplo: O Conselho Nacional de Justiça e o Conselho Nacional do Ministério Público fizeram uma faxina no empreguismo de sangue dentro do Judiciário e das Promotorias e Procuradorias. Quanta esposa, marido, filho que tiveram que sair para o bem do país... Mas até este avanço é relativo, posto que o Supremo Tribunal Federal, ao combater o nepotismo, o considerou existente somente até o nível de 3º grau de parentesco, que não alcança os primos... Quanto primo feliz por aí...



Essa relação entre ladrões e elites há de se fortalecer, considerando que o Brasil será palco de grandes obras em razão da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. E dizer isso já é lugar comum!!! É triste verificar que a população trata como normal a provável roubalheira nas licitações públicas. Temos uma Lei de Licitações que não evita os acordos, as pressões, as combinações de valores (e cujo número contém os três seis do capeta... 8.666). Temos tribunais de contas nos Estados com uma forma de se indicar conselheiros altamente promíscua, deixando o enorme rabo das relações entre Executivo e Legislativo à mostra. Temos poucos promotores de Justiça atuando na esfera do patrimônio público. Temos um processo judicial lento, apesar da Lei de Improbidade Administrativa ser considerada uma norma legal positiva. Temos, enfim, ingredientes ótimos para que ladrões realmente roubem a sociedade, em atos oriundos da nossa real nobreza tupiniquim.



Certa vez, um engenheiro civil já falecido me contou sobre o que via na época da construção de Brasília. Ele via, como técnico, algumas relações entre empreiteiros e poder público extremamente de má fé com a probidade. “Com o dinheiro que se fez Brasília, poderia ter sido feito muito mais, se o gasto tivesse sido honesto”, realçava. Assim, Brasília – cuja importância não questiono – nasceu superfaturada, definindo a sua vocação para o futuro: a de servir de berço para embalar acordos que utilizam o bem público em proveito do particular. Se bem que no Rio de Janeiro já era assim... Em Salvador também... Êta herança colonial portuguesa.



Mas, como bem disse Mark Twain, os ladrões estão entre a nobreza na maioria dos países. Claro que mais em alguns do que em outros...



Antônio Rodrigues de Lemos Augusto, jornalista, advogado e professor universitário em Cuiabá-MT. E-mail: lemosaugusto@uol.com.br. Twitter: http://twitter.com/antoniolemos

Ladrões e como tratá-los

Por Millôr Fernandes

Amigo meu surpreendeu um ladrão em casa. Desceu pé ante pé a escada e acendeu a luz da sala, rapidamente. O ladrão, ao ver a luz acesa, saiu correndo. Passou pela porta, saltou um muro, ganhou a rua. Meu amigo correu atrás do ladrão até a porta da rua e, para garantir-se da fuga do ladrão, deu um tiro para o ar. Seu erro. O ladrão parou de correr subitamente e, deitando ódio pelas narinas, voltou como um raio em direção ao meu amigo, disparando também o seu revólver, e gritando com fúria: "Tiro não, seu cachorro! Tiro não!".Trancando-se em casa e dominado pelo terror, meu amigo ficou refletindo que devia ter ferido algum ponto fundamental da ética larápia. Sentou-se à máquina. e fez então um código de como tratar ladrões. Ei-lo:


QUANDO, COMO E POR QUE SE DEVE ATIRAR NUM LADRÃO

Atire imediatamente:

1) Se for um ladrão que fala à maneira da literatura policial corrente. 2) Se ele, em vez de correr pra lá, corre pra cá: 3) Se ele provar que é vítima de uma estrutura social mal formulada e que não está fazendo mais do que lançar mão de algumas coisas que a sociedade lhe deve por tê-lo posto no mundo. 4) Se ele não parece disposto a despir sua melhor camisa esporte. 5) Se sua esposa ou filha achar que ele é um amor de ladrãozinho.

Evite atirar:

1) Quando o ladrão se encaminha para o quarto de seu tio rico, cujo único sobrinho é você. Nesse caso, evidentemente, cabe a seu tio o direito de atirar primeiro. É preferível deixar o ladrão um tanto chocado com a nossa não interferência, do que desagradar nosso tio quando é seu o legítimo direito de abater o larápio. Isso poderia levá-lo a um grande desgosto e, portanto, a nos deserdar. O fato de não interferirmos entre ele e o ladrão; muito ao contrário. 2) Se o nosso Terra Nova conseguiu agarrar o ladrão pelo gogó. Nesse caso, com a pontaria que temos, poderíamos ferir o cão e deixar solto o ladrão. E se você já viu um cão com raiva, fácil lhe será imaginar um ladrão hidrófobo. 3) Este ponto redunda no anterior. Você nunca deve disparar quando não for capaz de acertar um mosquito a cinqüenta metros. Os ladrões em geral acertam no olho esquerdo de pulgas a duas milhas de distância. (Medida inglesa). 4) Se sua esposa é uma Assistente Social. Ela pode aplicar sobre ele suas lições de "como reajustar o indivíduo à sociedade". 5) Se você está a beira da falência. Um ladrãozinho inopinado explica muito fundo ausente.

Peça ao ladrão para atirar antes:

1) Se você há muito tempo não tira férias. 2) Se você tem um ótimo seguro contra acidentes. Neste caso você pode até escolher o lugar do corpo em que o ladrão deve atirar, mediante uma comissão paga adiantadamente.Além disso previne-se também que para entrar em luta com um ladrão não é necessário convidá-lo a escolher as armas antecipadamente; já que um ladrão prefere normalmente as que tem à mão. Outrossim não se deve dirigir a palavra a um gatuno antes de lhe apontar o revólver. Ele pode ficar emocionado se você lhe falar sem ser apresentado e sentir-se na obrigação de lhe dar uma salva de tiros. A natureza dos ladrões, sabem os entendidos, é muito reclusa.

Texto extraído do livro "Lições de um Ignorante", José Álvaro, Editor – Rio de Janeiro, 1967, pág. 119.

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