Friedrich Wilhelm Nietzsche foi um influente filósofo alemão do século XIX. Wikipedia

Por Paula Ignacio


O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, no livro Genealogia da Moral, mostra em um primeiro plano a necessidade de desconstruir a moral já dada do homem ocidental, afim de descobrir como seria a moral ideal, de acordo com a natureza humana.



Para isso, ele analisa e critica a historiografia da moral do homem ocidental, o valor que têm todos os valores construídos até então. Questiona o uso de ideologias, de crenças, pois essas estabelecem valores falsos e ofuscam a realidade.



E nos mostra que por trás dos valores construídos pelo homem, tais como a justiça, liberdade, igualdade, esconde-se a Vontade de Poder pervertida.


Os homens construíram a história como se existissem fenômenos morais. Nietzsche nos adverte de que o que existe são as interpretações morais dos fenômenos. Ao interpretar, o homem necessariamente estabelece um valor, que é dado pela sua perspectiva. O perspectivismo é subjetivo, e, nesse caso, falta ao conceito de realidade, uma vez que não há nada que justifique o imaginário.


Nietzsche passa então a desconstruir a moral como a conhecemos, e tenta estabelecer uma nova moral, de acordo com a natureza do homem, tal como ele observa ao longo da história. A sua moral nada tem a ver com efetividade, como a moral aristotélica, por exemplo. A moral que Nietzsche nos apresenta procura elevar em muito a verdadeira natureza dos homens.

Em um primeiro momento, ele vai sugerir a gênese da vontade de poder, partindo de dados históricos, e principalmente através das relações entre senhores e escravos, os soberanos e os submetidos à soberania.



Os soberanos estabeleciam valores. E partiam de si mesmos para definirem primeiramente o conceito de “bom”. Logo, de uma afirmação de si mesmos, para a aceitação e definição de tudo o que poderia ser considerado como “bom” para todo o restante.

Já os escravos valoravam a bondade a partir de um ressentimento, de um sentimento de negação dos seus superiores. Como a origem do conceito de bom segundo Nietzsche é aristocrática, os escravos viam em seus senhores tudo o que eles não poderiam ser, ou seja, tudo o que era bom, era a negação de si mesmos. Para que pudessem se vingar dessa negação, não estabeleceram nada do que fossem eles mesmos como “bom”, então negaram seus senhores. “Se ele for mau, logo, eu serei bom”. Enquanto os nobres eram bons afirmando a si mesmos, os submissos só eram bons enquanto negavam os nobres. E negar atitudes nobres não pode ser considerado necessariamente como uma coisa boa. Pelo contrário, para o filósofo, é sinônimo de fraqueza. E essa é a moral tal como a conhecemos hoje. Tudo o que vem da fraqueza é considerado como “bom”.

Os homens, no decorrer da história ocidental, foram agregando significações pervertidas aos valores que iam se estabelecendo, tal como fizeram os escravos. O homem é o único, dentre os animais, capaz de medir e calcular o poder do outro. Por essa razão, os submetidos transformaram-se em homens do ressentimento. Os homens fracos, aqueles que esperavam pelo momento oportuno para tentarem se vingar dos mais fortes, exatamente por serem fracos e reprimirem seu desejo de vingança. E por conta dessa necessidade de vingança oprimida alimentaram mais o ressentimento. Só foram capazes de agir quando do surgimento das leis e da justiça, que foi criada exatamente para desviar a vontade de poder dos ressentidos.


A valoração dada à justiça também partiu do ressentimento dos fracos. A justiça é uma maneira desses homens se vingarem através das leis, que exaltam o comportamento submisso, numa tentativa de efetivarem sua vontade de poder, quando alguém é castigado por não agir de acordo com os princípios básicos da submissão.


“Assim se imaginou o castigo como inventado para castigar. Mas todos os fins, todas as utilidades são apenas indícios de que uma vontade de poder se assenhoreou de algo menos poderoso e lhe imprimiu o sentido de uma função (…) colocou-se em primeiro plano a “adaptação”, ou seja, uma atividade de segunda ordem, uma reatividade, chegou-se mesmo a definir a vida como uma adaptação interna às circunstâncias externas, mas com isso se desconhece a essência da vida, a sua Vontade de Poder; com isso não se percebe a primazia fundamental das forças espontâneas, agressivas, expansivas, criadoras de novas formas, interpretações e direções”.[1]

Através das leis, são valorados conceitos de liberdade, justiça e igualdade como bons e necessários a uma sociedade de paz. Mas todos esses conceitos nascem da força do ressentimento, uma vez que a justiça é a sede de vingança, a igualdade não é o fim último dos homens, pois não comporta a vontade de poder, e a liberdade não é dada aos homens para agirem conforme sua natureza.


Na “sociedade de paz”, o homem se viu obrigado a reprimir seus instintos agressivos. E a crueldade, que antes voltava-se para fora, ou seja, para outros homens, acabou sendo sufocada e internalizada. O homem da moralidade foi inibido de sua descarga para fora. A hostilidade, a crueldade, o prazer na perseguição, no assalto, na mudança, na destruição – tudo isso se voltando contra os possuidores de tais instintos.


A vontade de poder, que comporta todos esses instintos naturais do homem, foi pervertida e internalizada, e agora procura desesperadamente tornar-se imperceptível através do estabelecimento de determinados valores morais, tais como nos são dados.

“Violentamos a nós mesmos hoje em dia, não há dúvida, nós, tenazes, quebra-nozes da alma, questionadores e questionáveis, como se viver fosse apenas quebrar nozes; assim nos devemos tornar cada vez mais passíveis de questionamento, mais dignos de questionar, e assim mais dignos talvez – de viver? Todas as coisas boas foram um dia coisas ruins; cada pecado original tornou-se uma virtude original (…) os sentimentos brandos, benevolentes, indulgentes, compassivos – afinal de valor tão elevado, que se tornaram quase “os valores em si” – por longo tempo tiveram contra si precisamente o auto-desprezo: tinha-se vergonha da suavidade, como hoje se tem vergonha da dureza”.[2]

Após colocar esse problema, da falsa moral, Nietzsche procurou tentar estabelecer uma moral verdadeira, onde o homem pudesse agir seguindo esses instintos naturais, sufocados até então. Podemos chamar de imoralidade, pois parte de princípios diferentes da moral tal como a conhecemos. Uma tentativa de restauração do egoísmo humano.

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Duas aulas do Seminário de Filosofia, Curitiba, agosto de 1994
Transcrição de Luciane Amato, não revista pelo autor.





1. Definição



Inteligência, no sentido em que aqui emprego a palavra, no sentido que tem etimologicamente e no sentido em que se usava no tempo em que as palavras tinham sentido, não quer dizer a habilidade de resolver problemas, a habilidade matemática, a imaginação visual, a aptidão musical ou qualquer outro tipo de habilidade em especial. Quer dizer, da maneira mais geral e abrangente, a capacidade de apreender a verdade. A inteligência não consiste nem mesmo em pensar. Quando pensamos, mas o nosso pensamento não capta propriamente o que é verdade naquilo que pensa, então o que está em ação nesse pensar não é propriamente a inteligência, no rigor do termo, mas apenas o desejo frustrado de inteligir ou mesmo o puro automatismo de um pensar ininteligente. O pensar e o inteligir são atividades completamente distintas. A prova disto é que muitas vezes você pensa, pensa, e não intelige nada, e outras vezes intelige sem ter pensado, numa súbita fulguração intuitiva.



A inteligência é um órgão — digamos assim: um órgão — que só serve para isto: captar a verdade. Às vezes ela entra em operação através do pensamento, às vezes através da imaginação ou do sentimento, e às vezes entra diretamente, num ato intelectivo — ou intuitivo — instantâneo, no qual você capta alguma coisa sem uma preparação e sem uma forma representativa em especial que sirva de canal à intelecção. Outras vezes há uma longa preparação através do pensamento, da imaginação e da memória, e no fim você não capta coisíssima nenhuma: cumpridos os atos representativos, a intelecção a que se dirigiam falha por completo; dados os meios, a finalidade não se realiza. A inteligência está na realização da finalidade, e não na natureza dos meios empregados. E se a finalidade dos meios de conhecimento é conhecer, e se o conhecimento só é conhecimento em sentido pleno se conhece a verdade, então a definição de inteligência é: a potência de conhecer a verdade por qualquer meio que seja.



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Os cientistas começam a desvendar os fatores que tornam o cérebro mais eficiente. O que podemos esperar dessas descobertas


Marcela Buscato. Com Ana Aranha e Rafael Pereira



O ENIGMA DO GÊNIO


Amostras do cérebro do físico Albert Einstein conservadas para pesquisa. Há 54 anos, os cientistas tentam decifrar as origens de uma mente brilhante O americano Thomas Harvey disse ter se sentido sortudo ao deparar com o corpo do físico Albert Einstein em cima da mesa de autópsias do Hospital de Princeton, nos Estados Unidos. Não se tratava apenas da empolgação de um patologista – esses detetives da medicina que a cada nova necropsia procuram pelas causas de uma morte. Naquela manhã de 18 de abril de 1955, sete horas depois de Einstein morrer, aos 76 anos, em decorrência de um aneurisma abdominal, Harvey vislumbrou a possibilidade de uma descoberta histórica. Sem a autorização em vida de Einstein ou de sua família, ele abriu o crânio de seu “paciente” mais ilustre. Sugou o liquor do cérebro pelo nariz e com uma das mãos envolveu o bolo de massa cinzenta que revolucionara a ciência ao redefinir os conceitos de espaço e tempo. Harvey cortou as fibras que o prendiam ao corpo e o suspendeu. Acreditava que o cérebro de 1,2 quilo em suas mãos – mais leve que o da média da população – responderia à pergunta que já desafiava pensadores 400 anos antes de Cristo. Qual é a essência da inteligência?



Cinco décadas depois do dia de sorte de Harvey, o cérebro de Einstein – dividido em 240 finas fatias – flutua em dois potes de vidro no Centro Médico de Princeton. Durante todos esses anos, Harvey dedicou-se a enviar alguns desses pedaços a vários especialistas. Caberia a eles investigar o cérebro de um gênio e divulgar para o mundo a receita de tanta inteligência. Alguns deles arriscaram publicar seus achados. O primeiro: a região encarregada da habilidade matemática, chamada lobo parietal, era 15% maior no cérebro de Einstein. A segunda conclusão: as circunvoluções, aquelas dobras que dão uma aparência rugosa ao cérebro, eram distribuídas em um padrão que aproximava os neurônios, facilitando a transmissão de estímulos nervosos. A terceira descoberta: os neurônios eram mais bem alimentados. Einstein tinha uma proporção maior de células fornecedoras de nutrientes em seu cérebro.



O cérebro é como uma estrada. Em algumas pessoas,

asfaltada. Em outras vezes, feita de paralelepípedos

Foram constatações curiosas, sem dúvida. Mas pouco revelaram sobre o segredo da genialidade. Como garantir que as particularidades encontradas no cérebro de Einstein foram responsáveis por sua inteligência fora do comum? Há poucos cérebros tão geniais quanto o dele – e um número muito menor chega às mãos dos pesquisadores. Sem base de comparação, não há como provar cientificamente que um cérebro com as mesmas características faria de alguém um gênio. Um fim triste para o bem mais precioso de Einstein e para o ato ousado de Harvey – que morreu em 2007, aos 94 anos, dizendo-se cansado da responsabilidade de ser o guardião de um cérebro tão privilegiado.



Os cientistas de hoje podem não contar com uma matéria-prima nobre como essa, mas ironicamente estão mais perto de revelar a essência da inteligência do que Harvey jamais esteve. Eles têm acesso direto a algo que confere brilho a um cérebro: as modernas técnicas de ressonância magnética. Essas técnicas, desenvolvidas na última década, colorem as regiões ativadas durante a realização de cada tarefa. E mostram a intrincada rede de interações que produz a inteligência.



O psicólogo americano Richard Haier, da Universidade da Califórnia em Irvine, conseguiu descrever a rota de um pensamento dentro do cérebro usando as imagens obtidas nesse novo tipo de estudo (confira a ilustração). “Os diferentes níveis de inteligência estão relacionados a quão bem as informações percorrem esse caminho”, afirma Haier. “Em algumas pessoas, elas podem pegar atalhos ou viajar a uma velocidade maior.” É como se o cérebro fosse uma estrada. Em algumas pessoas, ela seria cheia de ramificações, pavimentadas com asfalto da melhor qualidade. Em outras, o pensamento andaria por uma trilha longa, feita com paralelepípedos. No mundo da neurociência, o asfalto corresponde a um maior número de conexões entre os neurônios, mais substâncias químicas para transportar as informações pelo cérebro e mais vasos sanguíneos para levar alimentos e oxigênio para as células nervosas. Os paralelepípedos correspondem a cérebros em que esses fatores aparecem alterados, acarretando um desempenho pior.



Uma série de estudos publicados nos últimos dois meses colocou à prova a teoria da estrada. E comprovou que aspectos como rota e qualidade do asfalto fazem a diferença. O neuropsicólogo alemão Jan Willem Koten, da Universidade Aachen, mostrou que as pessoas usam estratégias mentais diversas para executar a mesma tarefa. E que algumas dessas táticas são, de fato, mais eficazes: se traduzem em pensamentos velozes e certeiros. No estudo, os voluntários que usavam áreas do cérebro encarregadas do processamento visual e espacial para decorar uma sequência de dígitos tinham mais facilidade para lembrá-la que as pessoas que empregavam uma região ligada à linguagem. Paul Thompson, um neurologista da Universidade da Califórnia, descobriu que a qualidade do revestimento dos neurônios está diretamente ligada ao nível de inteligência. Quanto mais grossa a camada de mielina, um tipo de gordura que reveste os neurônios, mais rapidamente a informação é transmitida entre as células nervosas. Na Universidade McGill, no Canadá, os cientistas constataram que crianças e adolescentes com algumas áreas do cérebro mais espessas tinham um desempenho melhor em testes de inteligência. Elas teriam um maior número de conexões entre os neurônios.



Agora, os pesquisadores estão começando a investigar o que está por trás dessas diferenças. O que faz com que algumas pessoas usem estratégias mentais mais sofisticadas que outras? Ou tenham um revestimento mais espesso de mielina? Ou mais conexões cerebrais? A resposta está escrita no genoma, a sequência de códigos químicos que tornam cada pessoa tão única. Essas variações na rede neural seriam determinadas pelos genes. Isso significa que a inteligência é em boa parte transmitida dos pais para os filhos. Em seu estudo, Koten, da Universidade Aachen, descobriu que gêmeos idênticos, que compartilham os mesmos genes, têm mais chances de usar a mesma tática mental para decorar a sequência de números do que seus outros irmãos, que compartilham em média 50% dos genes. Outra pesquisa da Universidade da Califórnia mostrou que as regiões cerebrais que controlam as habilidades de linguagem e leitura são iguais em gêmeos idênticos. E alguns levantamentos sugerem que filhos adotivos costumam desenvolver um Q.I. (quociente intelectual) mais próximo ao dos pais biológicos, com quem não mantiveram contato, que ao dos pais adotivos, com quem convivem.



Esses indícios de hereditariedade e a criação de novos métodos para analisar milhares de sequências de DNA simultaneamente desencadearam uma busca pelos genes da inteligência. Os geneticistas já anunciaram a descoberta de pelo menos cinco. Sem dúvida, um avanço. Mas também uma amostra de quão difícil é determinar as causas da inteligência. Entre todos os genes descobertos, nenhum tem uma influência arrebatadora sobre o desempenho intelectual. “É provável que existam muitos genes que interfiram no desempenho, cada um com uma influência pequena”, afirma o psicólogo americano Robert Plomin, do King’s College London.



Em suas pesquisas, Plomin confirmou esses caprichos da genética. Ele empreendeu a maior busca já feita por genes da inteligência. Analisou o DNA de 7 mil crianças, usando uma técnica que procura por até 500 mil marcadores genéticos de uma só vez. E o gene mais influente que conseguiu encontrar, o IGF2R, determinava uma variação de apenas 0,4% na pontuação de testes de inteligência. Na Universidade de Washington, nos Estados Unidos, uma equipe de pesquisadores diz ter descoberto um gene, o CHRM2, com influência maior. A diferença de Q.I. entre uma pessoa que tenha todas as versões do gene que influenciem negativamente as habilidades cognitivas e alguém que carregue as mutações com influência positiva poderia chegar a 20 pontos. Os cientistas americanos afirmam que é muito difícil comprovar estatisticamente esse dado porque há poucos casos conhecidos de pessoas com essas configurações genéticas extremas.



Entender o papel exato desses genes é outro desafio. Eles parecem ter outras funções além de influenciar na habilidade de raciocínio. O caso mais intrigante é dos genes DARP-32 e DTNBP1. Eles são encontrados em pessoas com esquizofrenia, um transtorno psiquiátrico caracterizado por alucinações, e, por isso, são associados à doença. Estudos recentes sugerem que eles também podem ter alguma ação sobre a inteligência. Portadores de uma versão específica do DARP-32 processariam de forma mais eficiente as informações no córtex pré-frontal, o que melhoraria o desempenho intelectual. Já as pessoas com uma mutação específica no DTNBP1 teriam dificuldades de raciocínio. Ainda não se sabe por quê.



Ao mesmo tempo que avançam as descobertas sobre a influência da genética, também avançam os estudos sobre o papel do meio ambiente na formação da inteligência. “O nível de inteligência de uma pessoa é resultado da interação entre genes e fatores ambientais”, afirma o psicólogo Ian Deary, diretor do Centro de Epidemiologia Cognitiva da Universidade de Edimburgo, na Escócia. Até beber leite materno pode ser decisivo. Pesquisadores britânicos sugerem que, em crianças com determinada versão do gene FADS2, a amamentação pode elevar o Q.I. em até 7 pontos. Esse gene estaria relacionado à transformação de nutrientes da gordura do leite importantes para o desenvolvimento do cerébro.

Fonte: Época Ciência e Tecnologia

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