A Torre

XVI. A Torre ou Casa de Deus
O Arcano da Libertação e da Construção



Compilação de 
Constantino K. Riemma
A Torre no Tarot de Marseille-Kris Hadar
Tarô de Marselha
www.krishadar.com
O céu está coberto de esferas coloridas; dois homens caem de uma torre fulminada por um raio. A torre – localizada num terreno montanhoso, do qual brotam seis plantas verdes – tem três janelas azuis; a maior delas parece estar num andar mais alto que as outras. Não aparece a porta de entrada, na edição Grimaud.
Um raio com várias cores, linhas exuberantes, decapita o edifício, que é arrematado por quatro ameias. Sobre o fundo incolor do céu podemos contar 4 esferas na parte superior, 14 esferas à esquerda, 19 esferas à direita.
Um dos homens está caindo na frente da torre; do outro, mais atrás, vê-se apenas a parte superior do corpo, à direita da gravura. Os dois estão de perfil. No Tarô clássico, não aparecem tijolos ou pedras caindo sobre os homens, de modo a colocar suas vidas aparentemente em risco.
As pequenas manchas que se observam no chão, na frente da torre, não têm uma definição clara: podem ser pedras, líquido, pegadas.
Significados simbólicos
Rompimento das formas aprisionadoras, liberação para um novo início. Desafios dos momentos de transição.
Destruição da rigidez. Abertura. Conhecimento.
Desmoronamento e queda.
Interpretações usuais na cartomancia
Alterações, subversões, mudanças, debilidades. Libertação da alma aprisionada; quebras.
Conhecimento súbito. Parto, crise saudável.
Modificação traumática, separação repentina. Perdas, insegurança. Desconfiança em si mesmo, inquietação provocada por negócios arriscados.
Benefício recebido devido aos erros de outras pessoas.
Austeridade, uma tendência à timidez. Temperamento piedoso, religiosidade prática que não deprecia o material.
Mental: Indica o perigo que pode haver em perseverar em certa direção, em manter uma idéia fixa. Advertência para evitar tropeços e total aniquilamento dos planos em andamento.
Emocional: Domínio sobre os seres, mas sem caridade nem amor, já que se exerce com despotismo. Tarde ou cedo, sofrerá uma rejeição afetiva.
Físico: Projeto brutalmente abortado. Sinal ou anúncio não levados em conta; deve precaver-se nas atividades e negócios.
A chama que decapita a torre pode ser interpretada, no entanto, como uma liberação. Do ponto de vista da saúde: não passar os limites das forças vitais, já que uma enfermidade espreita.
Se há alguma enfermidade, indica o restabelecimento após um período penoso.
A Torre no Tarot de Marseille-Camoin
Tarô de Marselha-Camoin
Sentido negativo: Grande cataclismo, confusão completa. Enfermidade. Falta castigada, catástrofe produzida por imprudência. Maternidade clandestina. Escândalo, hipocrisia desmascarada. Excesso, abuso. Presunção, orgulho. Empreendimentos utópicos.
História e iconografia
A imagem de um homem que se precipita no vazio, do alto de uma torre, é uma das alegorias mais remotas que se conhece para representar o orgulho. Custa pouco intuir que esta metáfora – e a aniquilação celeste que a acompanha – tem filiação direta ao destino datorre de Babel.
Maison Dieu, baixo relevo na Catedral de Amiens - França
Baixo relevo do século 13
Catedral de Notre Dame de Amiens
França
Alguns estudiosos pensam que a sua inclusão no Tarô pode ser devida a uma impressionante corroboração histórica: o processo contra os templários e a sua queda vertiginosa, contemporânea dos imagiers que compuseram o Tarô.
Mais ambígua parece ser a chuva de esferas multicolores, cuja leitura não admite outra interpretação que a da influência do “alto” (com variações, esta chuva se repete nas cartas XVIII e XIX, arcanos de evidente simbolismo sideral).
Em uma miniatura pertencente a um manuscrito da Bíblia Pauperum (1350 a 1370), vê-se que o fogo do altar é aceso por meio de uma chuva semelhante à destes três arcanos.“Celita flamma venit / Et plebis pectora lenit” ("Vem a chama celeste / E aplaca o peito do povo"), é o que diz a legenda, clara paráfrase do milagre concedido a Elias diante da multidão cética (I Reis 18, 38-39).
Além do nome com que figura aqui, o Arcano XVI é também conhecido como A Torre ferida pelo raio, e pelo enigmático La Maison-Dieu, que aparece no Tarô de Carlos VI, na versão de Marselha, e que Oswald Wirth aproveita no seu desenho atualizado.
O próprio Wirth, porém, não dá uma explicação satisfatória para este último nome, limitando-se a corroborar o evidente simbolismo arquitetônico da figura, que se refere ao homem por sua verticalidade; à casa e às obras que ele constrói sobre a Terra – de onde se poderia deduzir também uma parábola sutil sobre o orgulho, pelo despropósito da tentativa de imitar o Grande Arquiteto.
Em certas versões do Tarô, parcialmente conservadas, o Arcano XVI apresenta um diabo que bate um tambor. Mas sua figura é secundária porque em primeiro plano aparece a goela de um monstro, entre cujos dentes se debate um ser humano.
Isso parece indicar que o fundo simbólico desse arcano, vale dizer, as analogias que se pode estabelecer na série torre-casa-goela-vagina-gruta-caverna primordial são muito anteriores à sua representação no jogo de cartas.
A Torre no Tarot de Oswadl Wirth
Tarô Oswald Wirth
Podemos constatar que este é o primeiro edifício que figura no Tarô e, de longe, o mais destacado. Neste sentido é preciso agregar à série analógica proposta as seguintes indicações: toda torre é emblemática do simbolismo ascensional e na Idade Média representou freqüentemente a escala intermediária entre a Terra e o Céu. Por seu aspecto murado, cuidadosamente defendido, também estabelece analogias com a virgindade.

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V. O Papa (O Pontífice ou o Hierofante)
O Arcano da Transcendência, da Iluminação, da Pobreza
Compilação de 
Constantino K. Riemma
O Papa no Tarot de Marselha-Camoin
Tarô de Marselha
www.camoin.com
    Um grupo de três personagens em que um deles é visto de frente, sentado, com a mão direita levantada no sinal da benção, tendo em sua mão esquerda o eixo de uma cruz de seis braços; sua cabeça está coroada por uma tiara. Os outros dois personagens que se encontram em primeiro plano, de costas para quem contempla a imagem, têm os rostos voltados para o primeiro personagem.
    Este, protagonista da figura, tem veste azul, capa vermelha ornada de amarelo. Sua mão esquerda está fechada e coberta por uma luva que tem impressa uma cruz dos templários. A barba e o cabelo do Pontífice são brancos.
    Percebe-se apenas vagamente a cadeira em que o personagem central está sentado, com duas colunas ao fundo.
    Os dois personagens que estão de costas mostram a tonsura. O da esquerda aponta sua mão direita para o solo, com os dedos separados. O homem da direita aponta para o alto com sua mão esquerda, com os dedos juntos.
Significados simbólicos
    É o arcano do ato da bênção, da iniciação, da demonstração, do ensino. Lei, simbolismo, filosofia, religião.
    Dever. Moral. Consciência. O Santo.
Interpretações usuais na cartomancia
     Autoridade moral, sacerdócio. Proteção, lealdade. Observância das convenções, respeitabilidade. Ensino, conselhos equilibrados. Benevolência, generosidade indulgente,
perdão. Mansidão.
    Busca de sentido, revelação, hora da verdade, confiança, indicações do caminho da salvação.
   Mental: O Pontífice representa a forma ativa da inteligência humana, que traz principalmente as soluções lógicas. Significa também os pensamentos inspirados por um nível mais alto de consciência.
    Emocional: Sentimentos poderosos, afetos sólidos, solicitude, sem cair em sentimentalismos. O Pontífice indica os sentimentos normais, tal como devem ser manifestados na vida, de acordo com as circunstâncias.
    Físico: Equilíbrio, segurança na situação e na saúde. Segredo revelado. Vocação religiosa ou cientifica.
    Sentido negativo: Indica um ser desprovido de sua razão e seus instintos, na obscuridade, carente de apoio espiritual. Projeto retardado.
    Chefe sentencioso, moralista estreito, rígido, prisioneiro das formalidades, metafísico dogmático, professor autoritário, teórico limitado, pregador da “boca pra fora”.
    Conselheiro desprovido de sentido prático.
    Problemas com saúde, indecisão, negligência.
O Papa no Tarot de Marselha-Kris Hadar
www.krishadar.com
História e iconografia
    O Arcano V é uma das figuras que permitiram precisar com maior exatidão a antiguidade do Tarô, já que seus detalhes iconográficos remontam a um modelo perdido em que se inspirou necessariamente o desenho de Fautrier (Tarô de Marselha), o que é confirmado pelas diferenças e semelhanças com maços mais antigos, como os de Baldini (1436-1487) e Gringonneur (1450).
    Em primeiro lugar, é preciso destacar que o Pontífice do Tarô de Marselha é barbudo, enquanto seus precursores renascentistas e medievais não o são. Há estudos que estabelecem uma curiosa cronologia da moda papal neste aspecto. Torna-se assim evidente que o tarô clássico copia um modelo mais antigo que não chegou até nós, mas que assegura a continuidade evolutiva do Tarô desde os imagiers du moyen age até a atualidade.
    Outro detalhe interessante é o da evolução da tiara papal na iconografia do Tarô. A tiara (com seu simbolismo sobre a existência dos três reinos ou mundos) não é um elemento litúrgico que permaneceu invariável ao longo da História. Boa parte dos estudiosos tende a concluir que as composições das tiaras representadas no Tarô clássico foram inspiradas em
O Papa no Tarot de Oswald Wirth
Tarô de Oswald Wirth
 gravações bem anteriores ao final do século XV, possivelmente dos fins do primeiro milênio.
   A luva papal ornada com a cruz-de-malta indica também a origem remota da imagem, já que desde os tempos de Inocêncio III (1197-1216) a cruz havia sido substituída por uma plaqueta circular.
   Arcano da capacidade adivinhatória, da intuição filosófica, do conhecimento espontâneo, o Pontífice simboliza também (por seu número) o homem como intermediário entre a divindade e o plano das coisas criadas.
    A soma destes simbolismos permite associá-lo ao mediador por excelência, o pacifista, o construtor de pontes, o que encontra a saída para situações aparentemente insolúveis, mediante um luminoso clarão intuitivo.
    O Papa também é visto como representante da lei moral, não escrita, que domina a consciência e, no setenário que as pontas da sua cruz organizam, as virtudes necessárias para vencer os sete pecados capitais:
- orgulho (Sol), preguiça (Lua),
- inveja (Mercúrio), cólera (Marte), luxúria (Vênus), 
- gula (Júpiter) e avareza (Saturno).
    Wirth o imagina um ancião pleno de indulgência para com as debilidades humanas, pontificando ante duas categorias de fiéis: aqueles que compreendem (representados pelo personagem com a mão para o alto); e os que formam o rebanho cego e inconsciente que obedece por temor ao castigo, e não por autodeterminação (representados pelo personagem que aponta a mão para o chão). Estas combinações (alto e baixo, direita e esquerda) voltam a colocar a ordem do quaternário como modelo de organização. Considerado do ponto de vista do quaternário formado pelos arcanos anteriores, o Pontífice representaria o conteúdo da forma, a quintessência concebível (se bem que imperceptível), o domínio da quarta dimensão.


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A Justiça

VIII. A Justiça
O arcano do Equilíbrio, da Imparcialidade
 
Compilação de 
Constantino K. Riemma
 
A Justiça no Tarot de Marselha-Camoin
Marselha-Camoin
 
Uma mulher, sentada num trono, tem em sua mão direita uma espada desembainhada com a ponta virada para cima, e na esquerda uma balança com os pratos em equilíbrio. A mão que segura a balança encontra-se à altura do coração.
Este personagem, que é visto de frente, está vestido com uma túnica cujo panejamento sugere uma mandorla (ver arcano 21 – O Mundo), espaço de conciliação das polaridades.
Não se vêem os pés da mulher nem a cadeira propriamente dita. Aparece, em compensação, com toda nitidez, o espaldar do trono: as esferas que o arrematam estão talhadas de maneira diferente.
Significados simbólicos
Justiça, equilíbrio, ordem.
Capacidade de julgamento.
Conciliação entre o ideal e o possível. Harmonia. Objetividade, regularidade, método.
Balança, avaliação, atração e repulsão, vida e temor, promessa e ameaça.
Interpretações usuais na cartomancia
Estabilidade, ordem, persistência, normalidade. Lei, disciplina, lógica, coordenação. Flexibilidade, adaptação às necessidades. Opiniões moderadas. Razão, sentido prático. Administração, economia. Obediência.
Soluções boas e justas; equilíbrio, correção, abandono de velhos hábitos.
Mental: Clareza de juízo. Conselhos que permitem avaliar com justeza. Autoridade para apreciar cada coisa no momento oportuno.
Emocional: Aridez, secura, consideração estrita do que se diz, possibilidade de cortar os vínculos afetivos, divórcio, separação. Este arcano representa um princípio de rigor.
Físico: Processo, reabilitação, prestação de contas. Equilíbrio de saúde, mas com tendência a problemas decorrentes de excessos (obesidade, apoplexia), devido à imobilidade da carta.
Sentido negativo: Perda. Injustiça. Condenação injusta, processo com castigo. Grande desordem, perigo de ser vítima de vigaristas. Aburguesamento.
A Jutiça no tarô Visconti Sforza
Visconti Sforza (1450)
História e iconografia
Gerechtigkeit. Representação medieval da Justiça
Bamberg (1237)
 
A representação da Justiça como uma mulher com balança e espada (ou livro) data provavelmente de um período remoto da arte romana.
Durante a primeira parte da Idade Média, espada e balança passaram a ser atributos do Arcanjo Miguel, comumente designado por Micael ou São Miguel, que parece ter herdado as funções do Osíris subterrâneo, o pesador de almas.
Mais tarde estes elementos passam para as mãos da impassível dama, da qual há figurações relativamente antigas na arte medieval: um alto-relevo da catedral de Bamberg, datado de 1237, a representa deste modo
Tudo indica que a iconografia do Arcano VIII seguiu com bastante fidelidade a tradição artística.
A espada e a balança são, para Aristóteles, os elementos representativos da justiça: a primeira porque se refere à sua capacidade distributiva; a segunda, à sua missão equilibradora. Ao contrário das alegorias inspiradas na Têmis grega, a Justiça do Tarô não tem venda sobre os olhos.
É comum relacionar este arcano ao signo zodiacal de Libra. Ele representa, como aquele, nem tanto a justiça exterior ou a legalidade social, mas sim a função interior justiceira que põe em movimento todo um processo psíquico (ou psicossomático) para determinar o castigo do culpado, partindo já da idéia de que “a culpa não é, em si, diferente do castigo”.
Também se atribui à balança uma função distributiva entre bem e mal, e a expressão do princípio de equilíbrio. A espada, por sua vez, representa a sentença, a decisão psíquica, a palavra de Deus.
 
Miguel Arcanjo
Miguel Arcanjo
A Justiça no Tarot de Oswald Wirth
 
Na repartição do Tarô em três setenários, a ordem que Oswald Wirth estabelece é descendente, correspondendo aos arcanos I-VII a esfera ativa do Espírito; aos VIII-XIV, a esfera intermediária,anímica; aos arcanos XVI-XXI, a esfera passiva do Corpo.
O segundo setenário – que se inicia com a Justiça – corresponde àAlma ou ao aspecto psicológico da individualidade.
“O primeiro termo de um setenário – diz Wirth – desempenha necessariamente um papel gerador. Assim, o espírito emana da Causa Primeira (O Prestidigitador), a alma procede do Arcano VIII, e o corpo, do XV (O Diabo)”.
Examinado do ponto de vista dos ternários, a Justiça (8), ocupa o segundo termo do terceiro ternário, sendo precedida pelo Carro (7), que cumpre aí a função geradora, enquanto ela, a Justiça, passa a exercer a função de organizadora.
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Neste sentido – confirmado por sua localização na ordem dos ternários – Wirth ressalta o caráter esotérico do Arcano VIII: nada pode viver sem cobrir a distância entre a origem e o equilíbrio, já que os seres não existem a não ser em virtude da lei à qual estão submetidos.
É interessante também analisar a correspondência simbólica entre aJustiça (8) e o Imperador (4), já que há uma aliança evidente entre os princípios de Poder e Lei e a busca da harmonia do governo (de um estado, de uma situação, da individualidade). Vale lembrar a esse respeito que, tradicionalmente, cabe ao soberano a aplicação da justiça.
Na mitologia grega, Zeus gera em Têmis (a fraternal divindade justiceira do Olimpo grego), entre outras filhas, as Horas ou Quatro Estações, e Diké (ou Diqué), a personificação da Justiça. Essa filiação permite relacionar o Arcano VIII à ordem do quaternário, detalhe que já se evidencia a partir de seu número (8 = 2 x 4).
Diké, a deusa grega da Justiça -->
 
Têmis, a deusa grega da Justiça
  






O Carro

VII. O Carro
O Arcano do Domínio, do Repouso
 
Compilação de 
Constantino K. Riemma
 
 
O Carro no Tarot de Marselha-Camoin
Tarô Marselha-Camoin
 
Dois cavalos arrastam uma espécie de caixa, montada sobre duas rodas e coberta por um dossel, onde se encontra um homem coroado, que traz um cetro em sua mão direita. Na parte frontal do carro (a única visível), em boa parte dos tarôs clássicos, há um escudo com duas letras, que variam com as editoras das lâminas.
Mais do que citar dois simples cavalos, podemos ressaltar que se tratam de corpos dianteiros fundidos ao carro. Os dois animais olham para a esquerda, mas a sua disposição é tal que parecem andar cada um para o seu lado. O cavalo da esquerda levanta a pata direita, e o da direita, a pata esquerda. O dossel repousa sobre quatro colunas.
O homem, que tem uma coroa do tipo das de marquês, tem a mão esquerda sobre um cinto amarelo, na altura da cintura, e na mão direita traz um cetro que termina por um ornamento esférico encimado por um cone. O peito do personagem está coberto por uma couraça. Cada um dos seus ombros está protegido por uma meia-lua, com rostos de expressão diferente.
Os cabelos do personagem são amarelos e seu olhar se encontra ligeiramente voltado para a esquerda, no mesmo sentido que o dos
animais atrelados à carruagem.
Cinco plantas brotam do solo. Não aparecem rédeas ou qualquer outro meio de guiar o carro.
Significados simbólicos
Contemplação ativa, repouso. Vitória, triunfo.
O setenário sagrado, a realeza, o sacerdócio.
Magistério. Superioridade. Realização.
Interpretações usuais na cartomancia
Êxito legítimo, avanço merecido. Talento, dons, capacidade, aptidões postas em marcha. Tato para governar, diplomacia, direção competente.
Conciliação dos antagonismos, condução de forças divergentes. Progresso, mobilidade, viagens por terra.
Mental: As coisas se realizam, mas falta ainda montar as peças de conjunto.
Emocional: Afeto manifestado; protetor, serviçal.
Físico: Grande atividade, rapidez nas ações. Boa saúde, força, atividade intensa. Do ponto de vista do dinheiro: gastos ou ganhos, movimento de fundos.
Significa também notícia inesperada, conquista.
 
O Carro no Tarot de Marselha-Kris Hadar
Tarô Kris Hadar
Pode ser interpretado igualmente como difusão da obra ou atividades do consulente através de palavras e, segundo sua localização na tiragem, significa elogios ou calúnias.
Sentido negativo: Ambições injustificadas, vanglória, megalomania. Falta de talento e de consideração. Governo ilegítimo, situação usurpada, ditadura. Oportunismo perigoso. Preocupações, cansaço, atividade febril e sem repouso. Perda de controle.
História e iconografia
O desfile dos heróis triunfantes de pé sobre seus carros de guerra é um costume pelo menos tão antigo quanto os próprios carros de guerra. Court de Gébelin – e com ele os que acreditam numa origem egípcia do Tarô – imagina que o Arcano VII nada mais é que a reapresentação do Osíris triunfal, e que os cavalos são uma herança vulgar da Esfinge.
Mais coerente, contudo, é relacioná-lo às apoteoses lendárias que comoveram a Idade Média, época em que se localiza sua iconografia.
Mais coerente, contudo, é relacioná-lo às apoteoses lendárias que comoveram a Idade Média, época em que se localiza sua iconografia.
Pode também lembrar um conto do ciclo mítico deAlexandre, o Grande, amplamente reproduzido desde a Antiguidade até o Renascimento.
Levado até o Oriente pela sucessão de seus triunfos, Alexandre teria chegado até o fim do mundo. Quis então saber se era verdade que a Terra e o Céu se tocavam num ponto comum. Para isto seduziu com ardis – é preciso recordar que a astúcia é também prerrogativa dos heróis – dois pássaros gigantes que existiam na região; prendeu-os e acomodou entre eles uma cesta.
Com uma lança na mão, em cujo extremo havia atravessado um pedaço de carne de cavalo, o conquistador subiu ao seu carro improvisado. Com a promessa de comida que oscilava ante seus olhos, os Grifos começaram a mover-se e alçaram vôo. Os heróis não podem, contudo, sobrepor-se aos deuses: na metade do caminho Alexandre  recebeu  um emissário dos deuses, um
 
Apolo e o Grifo
Apolo e o Grifo
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enfurecido Homem Pássaro que insistiu para que ele desistisse de seu projeto. Muito a contragosto, Alexandre aceitou a censura e atirou a lança para a Terra, para onde desceram os Grifos, impacientes e vorazes.
Essa lenda, nascida certamente no Oriente, foi introduzida na Europa no fim do século II. Estendeu-se em seguida por todo o Ocidente cristão e era conhecida desde a baixa Idade Média. Numerosas ilustrações e várias esculturas que a representam chegaram até nós. A Crônica Mundial, de Rudolph von Ems (século XIII) a reproduz em uma detalhada miniatura; em São Marcos de Veneza está o relevo talvez mais significativo para rastrear as fontes inspiradoras do Arcano VII: a cesta de Alexandre é ali uma caixa semelhante à de O Carro; aparecem também as rodas esboçadas.
Durante a Idade Média, a arte dos imagiers parece ter-se servido desta lenda como uma alegoria do orgulho.
Por sua amplitude simbólica e pela beleza da sua composição, O Carro figura entre os arcanos de maior prestígio do Tarô. É, também, um dos que oferecem maiores lacunas de interpretação.
Relacionado em princípio com Zain (sétima letra do alfabeto hebreu, que corresponde ao nosso Z), denuncia uma mobilidade e inquietude que tem a ver com todo deslocamento ou ação ziguezagueante, veloz.
 
Elias no Carro de Fogo, tela de Giuseppe Angeli
Elias no Carro de Fogo (A visão de Ezequiel)
Tela de Giuseppe Angeli, 1712 - 1798
 
Por sua amplitude simbólica e pela beleza da sua composição, O Carro figura entre os arcanos de maior prestígio do Tarô. É, também, um dos que oferecem maiores lacunas de interpretação.
Relacionado em princípio com Zain (sétima letra do alfabeto hebreu, que corresponde ao nosso Z), representa uma mobilidade e inquietude que tem a ver com todo deslocamento ou ação ziguezagueante, veloz. 
Há autores que relacionam as rodas do Carro aos torvelinhos de fogo da visão de Ezequiel.
Quando se traduz a lâmina pela palavra carro – protótipo dos sistemas de troca – representa o que é móvel, transferível, interpretável. Nesse caso, seu aspecto oracular é associado às mudanças provocadas pela palavra: elogios, calúnias, difusão da obra, boas ou más notícias; e, por extensão, aos sistemas de intercâmbio em geral (economian movimento de fundos).
Aponta-se aqui a questão das relações entre esta mobilidade e o dinamismo mercurial do Prestidigitador, já que esses arcanos se encontram no início e no fechamento do primeiro setenário do Tarô.
Talvez esta analogia possa ser levada mais longe, e não parece impossível que a figura toda seja uma ilustração desta passagem bíblica. Em Ezequiel (I, 4-28), com efeito, aparecem não só as rodas, o carro e os animais, mas também“sobre o trono, no alto, uma figura semelhante a um homem que se erguia sobre ele. E o que dele aparecia, da cintura para cima, era como o fulgor de um metal resplandecente”, o que é uma descrição bem próxima do personagem do Arcano VII. Nessa mesma passagem podemos encontrar também analogias válidas para o simbolismo geral do Arcano XXI (O Mundo).
 
"Currus Triumphalis", O Carro Triunfal da Alquimia
Currus Triumphalis
Amsterdã, 1671
Há quem veja ainda, nos animais presos, uma anfisbena (serpente de duas cabeças), ou poderes antagônicos que é necessário subjugar para prosseguir  –  “assim como no caduceu
O Carro no Tarot de Oswald Wirth
Tarô de Oswald Wirth
 
se equilibram as duas serpentes contrárias”. O veículo representaria o simbolismo do Antimônio (ou a Alma Intelectual dos alquimistas), mencionado como Currus Triumphalis num tratado de Basílio Valentin (Amsterdã, 1671).
A totalidade do arcano sugere, para Wirth, a idéia do corpo sutil da alma, graças ao qual o espírito pode se manifestar no campo do material. Esta idéia de um halo ou dupla transubstancial que não pode ser relacionada a nenhum dos três aspectos do homem  (corpo –> alma –> espírito), mas que tende a relacioná-los entre si, gozou de um vasto prestígio esotérico: é o corpo sideral de Paracelso (ou astral, na linguagem teosófica), como também o “corpo aromático”, de Fourier, ou o Kama rupa do budismo soteriológico.
 Finalmente, permanece em aberto a explicação para as letras inscritas no escudo: S e M (no Tarô da editora Grimaud). Alguns supõem que se referem a Sua Majestade; outros, que falam dos dois princípios alquímicos, Sulfur e Mercurius). Não é este o único ponto obscuro do arcano que Éliphas Lévy chamou “o mais belo e mais completo de todos que compõem a chave do Tarô”.





O Diabo

XV. O Diabo
O Arcano da Contra-inspiração e da Sedução
 
Compilação de 
Constantino K. Riemma
 
 
O Diabo no Tarot de Marseill-Kris Hadar
Tarô de Marselha-Hadar
 
Três personagens estão representados de pé. No meio, sobre um pedestal vermelho em forma de cálice, um hermafrodita com asas e chifres; embaixo, uma figura feminina e outra masculina, pequenas e dotadas de atributos animais, presas, por uma corda que lhes passa ao pescoço, a um aro que se encontra no centro do pedestal.
O personagem central, despido, veste somente um cinto vermelho; tem na cabeça uma curiosa touca amarela, da qual sobem dois chifres de veado; duas asas amarelas (ou azuis, na ed. Grimaud), de desenho semelhante à dos morcegos, brotam das suas costas. Tudo indica que o personagem é do sexo masculino, mas seus seios estão desenvolvidos como os de uma mulher. Suas mãos e pés apresentam características simiescas; a mão direita, erguida, mostra o dorso; a esquerda segura a haste de uma tocha. O par acorrentado é visto de três quartos. Estão completamente nus, mas têm uma touca vermelha da qual sobem chifres negros.
Têm rabo, patas e orelhas de animal e escondem as mãos atrás das costas. No nível em que se encontram, o chão é preto, mas na altura do pedestal torna-se azul (ou amarelo) com listas negras. O fundo é incolor.
Significados simbólicos
    As provas e provações. As tentações e seduções.
    Magias. Desordem. Paixão. Luxúria. Dependência.
    Intercâmbio, eloqüência, mistério, força emocional.
Interpretações usuais na cartomancia
Paixões indomáveis. Atração sexual. Ação mágica, magnetismo. Capacidade milagreira. Poder oculto, exercício de influências misteriosas.
Proteção contra as forças obscuras e os encantamentos.
Mental: Grande atividade, mas totalmente egoísta e sem preocupação pela justiça.
Emocional: Pluralidade, diversidade, avidez, inconstância. Busca em todas as direções para atrair tudo. Sem a menor preocupação com o próximo. Libertinagem.
Físico: Grande irradiação neste plano, em particular no domínio material e nas realizações concretas. Poderosa influência sobre os outros.
Forte atração pelo poder material.
Tem, contudo, uma deficiência: todos os sucessos a que promete serão obtidos por vias censuráveis. Desta forma a fortuna será feita e os delitos permanecerão na impunidade.
Inclui também a punição: de acordo com a sua relação com as outras cartas, pode significar que os sucessos serão efêmeros e que o castigo virá na seqüência.
Do ponto de vista da saúde: grande instabilidade nervosa, transtornos psíquicos; aparição de enfermidades hereditárias.
 
O Diabo no Tarot de Marseill-Camoin
Tarô de Marselha-Camoin
Sentido negativo: A ação parte de uma base má e seus efeitos podem ser calamitosos. Desordem, inversão de planos, coisas obstruídas. Do ponto de vista da saúde: ampliação do mal, complicações. Disfunção. Superexcitação, sensualidade. Ignorância, intriga. Emprego de meios ilícitos. Enfeitiçamento, fascinação repentina, escravidão e dependência dos sentidos. Debilidade, egoísmo.
História e iconografia
Durante a baixa Idade Média o Diabo era representado freqüentemente como um dragão ou uma  serpente,  imagem derivada,  sem dúvida,  de seu papel no  Gênese.  Por um processo
São Miguel Arcanjo
São Miguel e o Dragão
Mont St. Michel - França
 
simbiótico – característico da iconografia – Eva e o Diabo se fundiram com freqüência na figura da serpente com cabeça de mulher: isto pode ser visto quase sempre nas ilustrações dos mistérios franceses que falam da Queda.
O desenvolvimento antropomórfico, que levou o Diabo a se converter na figura que conhecemos tem sua origem, provavelmente, nas tradições talmúdicas e nas lendas pré-cristãs, segundo as quais a serpente edênica teria tido mãos e pés de homem, membros que perdeu como castigo por sua maldita intervenção no drama do Paraíso, ficando condenada a arrastar-se até o fim dos tempos.
De modo similar o Diabo aparece no Apocalipse de Abraão, onde o Tentador é descrito como um homem-serpente, descrição retomada por Josefo e por boa parte dos autores judeus dessa época.
Já no Antigo Testamento ( 1,6-12 e 2,1-7) menciona-se estahumanização de Satã, e em Mateus (4, 3-11) aparece com toda clareza o antropomorfismo do personagem. Ele é assim descrito num manuscrito de Gregório de Nicena, onde toma a forma de um homem jovemalado e nu da cintura para cima.
É somente no fim do primeiro milênio que o Diabo sofre a mais cruel de suas metamorfoses,
a que acabou por transformar o mais formoso dos anjos em sinônimo de abominação e horror.
Van Rijneberk atribui aos miniaturistas anglo-saxões essa mudança iconográfica, que respondia à simplicidade analógica da época. Se o Diabo continha a soma de todos os pecados e escândalos, seria lógico, dessa forma, que fosse representado como o apogeu de feiúra e pavor.
homem com garras das figuras mais tênues sofreu a inclusão de chifres, dentes enormes, pêlos, cascos de bode, seios enrugados, rabo que terminava em seta. Assim aparece nos manuscritos alemães dos séculos X e XI, e no Missel Oxonien do bispo Léofric (960-1050). O diabo da lâmina do Tarô – um morcego hermafrodita – mostra-se como herdeiro dessa representação.
Van Rijneberk destaca o sentido metafísico de Satã para os Pais da Igreja, longe ainda dessas representações. Entre os séculos III e IV, Atanásio relatou as fadigas que costumavam acompanhar os tentados: o aspecto do Maligno produzia mais angústia do que repulsa; sua voz era terrível e seu movimento oculto como o de um assassino.
 
São Miguel Arcanjo
São Miguel e o Diabo
Normandia, 1480
A tentação de Cristo no deserto
Primeira tentação de Jesus Cristo
Copenhage, 1222
 
Tanto Cirlot como Oswald Wirth – a partir de seus respectivos planos de observação – evitam entrar no complexo campo da demonologia ao comentarem o Arcano XV. 
Assim, o primeiro destes autores se limita a compará-lo ao “Baphomet dos templários, bode na cabeça e nas patas, mulher nos seios e braços” e a mencionar que o personagem tem como finalidade “a regressão ou a paralisação no fragmentado, inferior, diverso e descontínuo”.
Oswald Wirth, por outro lado, afirma que o Diabo é o inimigo do Imperado(IV) na luta política pelo poder no mundo material, e se pergunta quem é “que opõe os mundos ao Mundo, e os seres entre si”.
Para  Ouspensky,  o Diabo  “completa o triângulo
cujos outros dois lados são a morte e o tempo”, no sentido da formalidade do ilusório.
Ele dá origem ao terceiro e último setenário do Tarô, plano do mundo físico ou do corpo perecível do homem. Do ponto de vista da finitude temporal, não é menos importante do que o Prestidigitador para o reino do espírito, ou o triunfal protagonista de O Carro (VII) para a análise psicológica.
"Na medida em que sempre houve áreas sombrias e ainda desconhecidas para o conhecimento e que presumivelmente, os enigmas subsistirão sempre – diz Jaime Rest no seu artigo Satanás, Suas Obras e Sua Pompa —, o demoníaco foi e continuará sendo uma constante de nossa realidade, já que esta experiência parece nutrir-se primariamente de algo que se desdobra além do domínio humano, e cuja índole tremenda e estremecedora suscita em nós este abalo íntimo que os teólogos denominam temor numinoso”.
O estudo dessa figura pode incluir as metamorfoses sofridas pelo Diabo (incluindo a variabilidade do aspecto: da beleza resplandecente com que Milton e William Blake o imaginaram até o horror da sua corte nas telas de Goya) para retornar ao memorável ponto de partida de onde se concebe sem dificuldades a permanência do demonismo: Satã como “um desafio da ordem que os homens atribuíram a Deus”.
 
O Diabo no Tarot Oswald Wirth
Tarô de Oswald Wirth
Baphomet - gravura de Eliphas Levi
Baphomet
Gravura de Eliphas Levi (1810-1875)
 
A figura do Tentador, por outro lado, é inseparável das legiões que o servem (ou seja, da idéia do Inferno), e o Tarô repete esta associação ao representá-lo junto com o casal acorrentado – seres que podem ser tanto seus prisioneiros como seus colaboradores. A repetição do esquema dantesco é atribuída por Carrouges à paralisia imaginativa dos séculos posteriores em relação ao tema; daí a fixação e o empobrecimento do ciclo mítico na literatura européia.
Esta visão demonológica contemporânea, que faz do Diabo uma metáfora conflitante da dignidade humana, não é menos importante que a tradicional. Impõe-se, ao menos, como mais uma referência para a análise atualizada do Tarô.
Os comentários reunidos até aqui, porém, estão longe de esgotar as indicações para o estudo deste personagem tão ambíguo.
Vale a pena conhecer as reflexões de G. O. Mebes, em Os Arcanos Maiores do Tarô, sobre o papel de Baphomet, enquanto representação "da bipolaridade do turbilhão astral", passagem inevitável no processo evolutivo.


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O Eremita

IX (ou VIIII). O Eremita (ou Ermitão)
O Arcano da Consciência, do Iniciado
 
Compilação de 
Constantino K. Riemma
 
 
O Ermitão, ou Eremita, no Tarôt de Marseille-Camoin
Tarô de Marselha-Camoin
 
Um homem, de pé, tem na mão esquerda um bastão que lhe serve de apoio, enquanto que com a direita levanta uma lanterna até a altura do rosto. Está representado de três quartos, com o rosto voltado para a esquerda. Veste uma grande túnica e um manto azul com o forro amarelo. Seu capucho, caído sobre as costas, parece continuar a túnica e é arrematado por uma borla amarela.
A lâmpada, aparentemente hexagonal, tem apenas três de seus lados visíveis, sendo o central vermelho e os restantes amarelos.
O fundo da gravura é incolor, e o chão de um amarelo estriado de listas negras, muito semelhante ao reverso do manto.
Significados simbólicos
O Iniciado, o buscador incansável. Sabedoria, iluminação, estudo, autoconhecimento
Meditação, recolhimento, saber desligar-se. Reavaliação da vida e dos objetivos.
Concentração, silêncio. Profundidade.
Prudência. Reserva. Limites. Influência saturnina.
Interpretações usuais na cartomancia
Austeridade, moderação, sobriedade, discrição. Médico experiente, sábio que cala seus segredos. Celibato. Castidade.
Mental: Contribuição luminosa à resolução de qualquer problema. Esclarecimento que chegará de modo espontâneo.
Emocional: Alcançar as soluções. Coordenação, encontro de afinidades. Significa também prudência, não por temor, mas para melhor construir.
Físico: Segredo descoberto, luz que se fará sobre projetos até agora ocultos. Na saúde: conhecimento do estado real, consultas que podem remediar os problemas.
Sentido negativo: Obscuridade, concepção falsa de uma situação. Dificuldades para nadar contra a corrente. Timidez, isolamento, depressão, recusa de relações.
Mutismo, circunspecção exagerada, isolamento, caráter fechado. Avareza, pobreza. Conspirador tenebroso.
Tarô Visconti Sforza -->
O Eremita no Tarô Visconti Sforza
 
História e iconografia
O Ermitão é, sem dúvida, um dos arcanos menos alegóricos do Tarô. A imagem de um peregrino em hábito de monge, transportando um cajado, pode ser encontrado em dezenas de iluminuras em manuscritos dos séculos XV e XVI. O único detalhe que o afasta desta monotonia é a lâmpada que leva na mão direita: por ela imagina-se que seja uma ilustração da conhecida história de Diógenes em busca de um homem. Esse relato foi muito popular na alta Idade Média e no Renascimento e, de fato, vários modelos renascentistas do Tarô chamam o Arcano VIIII de Diógenes.
Alguns estudiosos acreditam que boa parte do simbolismo do Ermitão liga-se aos princípios fundamentais desse filósofo cínico: desprezo pelas convenções e vaidades, isolamento, renúncia à transmissão pública do conhecimento.
 
O Ermitão, ou Eremita, no Tarôt de Oswald Wirth
Tarô de Oswald Wirth
 
Mas este mutável personagem teve ainda outras representações: notarocchino de Bolonha, aparece com muletas e asas; no de Carlos VI, tem uma ampulheta no lugar da lâmpada (o que o associa a Cronos ou Saturno, medidores do tempo).
Outra interpretação surge ainda do aparente erro ortográfico que se pode ver no Tarô de Marselha, onde a carta figura como L'Hermite em lugar de L'Ermite. Etimologicamente, o nome não derivaria então do grego eremites, eremos = deserto, mas provavelmente de Hermes e seu polivalente simbolismo. A esse respeito, podemos lembrar que é precisamente a Thot, equivalente egípcio de Hermes, que Gébelin e seus seguidores atribuem a invenção do Tarô.
Wirth explica os atributos do Eremita como termo final do terceiro ternário do Tarô, relacionando-o com os arcanos VII e VIII, que o precedem nesse ternário. Nessa relação, O Carro aparece como o homem jovem e impaciente para realizar a obra do progresso, que A Justiça se encarrega de retardar, amiga como é da ordem e pouco amante das improvisações; O Ermitão seria o conciliador deste antagonismo, evitando tanto a precipitação quanto a imobilidade.
Muitos autores interpretam o seu significado como oposto e complementar ao do Arcano V (O Pontífice): o Eremita não é o codificador da liturgia, o responsável executivo de uma igreja, o pastor de um rebanho: seu pontificado é silencioso e sutil, seus discípulos são escolhidos. Na relação iniciática, é evidente que representa o “guru” e por isso foi definido como “o artesão secreto do futuro”.
No sentido negativo, o Arcano VIIII não é apenas a carta dos taciturnos; por sua minuciosidade e ritualismo, pode também ser relacionado aos temperamentos obsessivos.

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A Imperatriz

III. A Imperatriz
O Arcano da Magia Sagrada, da Força Mediadora, da Mãe
 
Compilação de 
Constantino K. Riemma
 
 
 
A Imperatriz no Tarot de Marselha-Camoin
Tarô de Marselha-Camoin
 
Uma mulher coroada, sentada num trono, mantém contra si, com sua mão direita, um escudo ornado com uma águia amarela, enquanto que com a esquerda sustenta um cetro que termina por um globo encimado pela cruz.
Está representada de frente, com os joelhos separados e com os pés ocultos nas dobras da túnica. A cintura da Imperatriz está marcada por um cinto, que se une a uma gola dourada. A coroa leva florões amarelos e permite que os cabelos da figura se derramem sobre os ombros.
O trono está bem visível e seu espaldar sobressai à altura da cabeça da Imperatriz. No ângulo inferior esquerdo da estampa cresce uma planta. A águia desenhada no escudo olha para a direita.
Significados simbólicos
O verbo, o ternário, a plenitude, a natureza, a fecundidade, a geração nos três mundos.
Sabedoria. Discernimento. Idealismo. Influência solar intelectual. É o arcano da Magia Sagrada, instrumento do poder divino.
Interpretações usuais na cartomancia
Gravidez, criatividade, sucesso. Compreensão, inteligência, instrução, encanto, amabilidade. Elegância, distinção, cortesia. Domínio do espírito, abundância, riqueza.
Mental: Penetração na matéria por meio do conhecimento das coisas práticas. Os problemas vêem à tona e podem ser reconhecidos.
Emocional: Capacidade para penetrar na alma dos seres. Pensamento fecundo e criador.
Físico: Esperança, equilíbrio. Soluciona os problemas. Renova e melhora as situações. Poder continuo e irresistível nas ações.
Sentido negativo: Desavenças, discussões em todos os planos. As coisas se embaralham e ficam confusas. Atraso na realização de um acontecimento que, no entanto, ocorrerá.
Afetação, pose, coqueteria. Vaidade, presunção, desdém.
Futilidade, luxo, prodigalidade. Deixa-se levar pelas adulações, falta de refinamento, modos de novo-rico.
A Imperatriz no Tarot de Marselha-Kris Hadar
Tarô Marselha-Kris Hadar
 
História e iconografia
A Imperatriz, adornada dos símbolos atribuídos à feminilidade triunfante, pode ser relacionada a um repertório interminável: a Madona cristã, a esposa do rei ou mãe do herói; a deusa primordial de todos os ritos matriarcais, as quatro damas do baralho.
 
A Imperatriz no Tarot de Oswald Wirth
Tarô de Oswald Wirth
 
Sobre a figura da Imperatriz parece ser mais importante considerar a sua localização no Tarô (como a terceira da série) e à sua relação com outras figuras do que o seu simbolismo individual, já que o caráter difuso da carta torna sua amplitude inesgotável. Assim, será interessante recapitular tudo que foi escrito sobre o simbolismo do três e a ordem do ternário, bem como às variadas significações atribuídas às damas dos Arcanos Menores.
Na versão de Wirth, a Imperatriz aparece aureolada por doze estrelas, das quais somente nove são visíveis: é evidente o duplo sentido alegórico desta representação, que se refere simultaneamente aos signos do Zodíaco e ao período da gestação. Como o 9 é também representação da inteligência, no momento da sua maturidade, é possível associar os atributos centrais do Arcano III: feminilidade-experiência-sabedoria.
Relacionada em todas as cosmogonias ao simbolismo lunar e à face oculta do conhecimento (Sacerdotisa), a mulher admite também um período solar (Imperatriz), do qual há correspondências nas organizações culturais mais remotas da humanidade.
Do ponto de vista matriarcal, a Imperatriz não é ainda a Eva protagonista do pecado e da queda, mas a que aparece em certas tradições talmúdicas: a fundadora, que reencontra Adão depois de trezentos anos de separação; a que aniquila Lilit – a rival estéril e luxuriosa – para organizar junto ao primeiro pai a família dos homens.
Alguns comentaristas do Islã vêem nesta Eva triunfante do adultério a representação da passagem das sociedades anárquicas ao princípio de ordem dos tempos históricos. Seu túmulo mítico se localiza em Djeda ou Djidda, às margens do mar Vermelho e próximo da montanha sagrada de Arafat, onde o teria ocorrido seu reencontro com Adão, para formar o casal primordial.
A Imperatriz, finalmente, é símbolo da palavra e representa o envoltório material do corpo, seus órgãos e suas funções. Ouspensky a imagina repousando sobre um trono de luz, bela e fecunda, em meio à interminável primavera.

 
Lilith
Lilit e a rebeldia feminina








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O Imperador

IIII. O Imperador
O Arcano da Autoridade, da Paternidade e da Obediência
 
Compilação de 
Constantino K. Riemma
 
 
 
O Imperador no Tarot de Marselha-Camoin
Tarô de Marselha
www.camoin.com
     Sentado num trono com as pernas cruzadas, um homem coroado é visto de perfil. Em sua mão direita traz um cetro que termina por um globo e pela cruz, enquanto a outra mão segura o cinto.
    No primeiro plano, à direita, um escudo com a imagem de uma águia parece apoiar-se no chão.
    Um colar amarelo prende uma pedra (ou um medalhão) de cor verde. A coroa se prolonga extraordinariamente por detrás da nuca.
    O trono, uma cadeira em cujo braço esquerdo se apóia o Imperador, repousa – como a mesa do Arcano I – sobre um terreno aparentemente árido, do qual brota uma solitária planta amarela.
    Ao contrário do emblema da Imperatriz, a águia do Arcano IIII olha para a esquerda. O desenho das águias, por outro lado, difere notavelmente num e noutro caso.
    A notação IIII, no topo do desenho, que ocorre também nos arcanos VIIII, XIIII e XVIIII não é habitual na numeração romana (que registraria IV, IX, XIV e XIX).
    Essa forma de grafar, porém, faz parte da tradição gráfica do Tarô, tal como aparece na versão de Marselha e na maioria das coleções de cartas antigas.
Significados simbólicos
    O poder, o portal, o governo, a iniciação, o tetragrama, o quaternário, a pedra cúbica ou sua base. Proteção paternal.
    Firmeza. Afirmação. Consistência. Poder executivo. Influência saturnina-marciana. Concretização, habilidades práticas, ordem, estabilidade, prestígio.
Interpretações usuais na cartomancia
    Direito, rigor, certeza, firmeza, realização. Energia perseverante, vontade inquebrantável, execução do que está resolvido. Protetor poderoso.
    Mental: Inteligência equilibrada, que não despreza o plano utilitário.
    Emocional: Acordo, paz, conciliação dos sentimentos.
    Físico: Os bens, o poder passageiro. Contrato firmado, fusão de sociedades, situação do acordo. Saúde equilibrada, mas com tendência à exuberância excessiva.
    Sentido negativo: Resultados contrários ao pretendido, ruptura do equilíbrio. Queda. Perda dos bens, da saúde ou do domínio sobre coisas e seres. Oposição tenaz, hostilidade preconcebida. Teimosia, adversário obstinado; assunto contrário aos interesses. Autodestruição, grande risco de ser enganado. Autoritarismo, tirania, absolutismo.
História e iconografia
    Alguns estudiosos chamam atenção para um aspecto significativo desta figura: o Imperador tem as pernas cruzadas. Este detalhe corroboraria a tese de inspiração germânica do arcano, visto que no antigo direito alemão esta posição era prescrita ritualmente para os altos magistrados (1220). No entanto, imagens semelhantes e igualmente antigas aparecem nas iconografias francesa e inglesa, representando altos dignitários.
    O caráter cerimonial e prestigioso do cruzar as pernas pode ter uma origem mais remota, possivelmente oriental, já que isso não é habitual no panteão greco-romano.
    O antigo simbolismo, convertido em liturgia pela codificação alemã, admite também um profundo sentido psicológico: cruzar as pernas e os braços indica concentração volitiva, encerra o protagonista na sua esfera pessoal e, do ponto de vista gestual, afirma claramente o desejo de individuação.
    Outros detalhes merecem ser assinalados a propósito do Imperador.
    É comum, associar o simbolismo do Tetragrammaton à figura do Imperador. É sabido que o tetragrama traduz ao nome de Deus omitindo-o, ao decompô-lo no nome das letras que o formam: Yod – He – Vau– He.
 
O Imperador no Tarot de Marselha-Kris Hadar
Tarô de Marselha
de Kris Hadar
 
 
O Tetragrama
He <- he="" td="" vau="" yod="">
     A leitura do nome das letras (grafadas da direita para a esquerda, em hebraico), dá Jehová, que não é o nome de Deus, mas alusão a ele.
    Os cabalistas, como demonstra este exemplo, trabalham também com o pensamento analógico, tal como se vê nos demais estudos tradicionais.
    “A idéia é perfeitamente clara” – diz Ouspensky – “se o Nome de Deus está realmente em tudo (se Deus está presente em tudo), então tudo deve ser análogo a tudo mais: a parte menor deverá ser análoga ao Todo, a partícula de pó análoga ao Universo, e todos análogos a Deus”.
    Do ponto de vista cabalístico, a relação Tetragrama-Imperador parece muito fecunda, já que, comparada com as três letras anteriores (ou os três arcanos), consideradas respectivamente como o princípio ativo (I), o princípio passivo (II) e o princípio do equilíbrio ou neutralizador (III), a quarta letra ou carta é considerada o resultado e, também, o princípio da energia latente.
 
O Imperador no Tarot de Oswald With
Tarô de Oswald Wirth
     Isto se harmoniza perfeitamente com a versão de Wirth sobre o Arcano IIII, segundo a qual ele não é apenas o Príncipe deste mundo, que "reina sobre o concreto, sobre o que está corporificado", mas é também o paradigma do homem estritamente normal, em posse de suas potencialidades, mas ainda não realizado pela iniciação.
    Nesse sentido, representa o quaternário de ordem terrena, de organização da vida sensível, e pode ser relacionado também ao demiurgo dos platônicos, às divindades inferiores em geral (os heróis, antes dos deuses), e a toda tentativa de criação de vida no nível terreno e perecível.
    Também se vê nele, enquanto rei que propicia a prosperidade e o crescimento de seu povo, uma correspondência ao mito de Hércules, “portador da maçã, que leva as maçãs de ouro ao jardim das Hespérides”.
    Hércules, enquanto herói solar, que resume como nenhum outro as fases do processo iniciático no sentido da liberação individual que, esotericamente, só se pode alcançar através do trabalho e do esforço.
    Como Hércules, também o Imperador não transcende a condição humana, embora o princípio indique que poderá levá-la à sua mais alta manifestação.
    É considerado, em sua face não trabalhada, como representante do aspecto violento e agressivo do masculino, mas também como dispensador da energia vital e, neste aspecto, como a Natureza abundante, divisível, nutritiva.

Fonte:www.clubedotaro.com.br



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